Quero
reproduzir aos amigos uma conversa que tive com dois vizinhos do templo, e
portanto meus vizinhos, uma vez que a casa pastoral onde moro é anexa. Vou
chamá-los de José e Maria, para evitar uma exposição desnecessária.
José, um
quarentão pacato, não pratica nenhuma religião; como já o havia convidado a nos
visitar, sem sucesso, perguntei a razão da recusa; até lhe sugeri, caso não se
sentisse muito à vontade em nosso templo, havia outras igrejas evangélicas que
poderia visitar; ele disse-me que não havia nada de errado nem com nossa igreja
nem entre nós, mas que ele estava com muito medo dos evangélicos. E antes que
perguntasse o porquê desse medo ele acrescentou:
“Pastor, gosto
muito de ouvir programas evangélicos na TV e até já contribui com alguns
pastores para manterem seus programas no ar. Mas nos últimos dois anos eu estou
assustado com a forma como os evangélicos se odeiam; vocês pregam que devemos
viver o amor de Jesus, mas vivem falando mal uns dos outros inclusive nos
programas da TV e “das rádios”. Vocês parecem que vivem sempre em guerra para
serem melhores que os outros, que a igreja do pastor A é mais poderosa que a do
pastor B; vocês se chamam de otários e até de filhos do diabo; como posso me
sentir bem no meio de gente assim? Eu
prefiro ficar na minha casa brincando com meus netos e assistindo meu
futebolzinho e tomando minha cervejinha no final de semana. Nunca fui religioso
pastor e agora quero ser menos ainda. Sempre pensei que talvez um dia eu até me
tornasse evangélico, pois achava vocês bem bacanas, mas hoje nem penso mais
nisso. O dia que eu morrer Deus me dá o
lugar que achar que eu mereço".
Já dona Maria,
uma senhorinha muito gentil, católica fervorosa, me disse o seguinte: "Pastor,
sou católica mas amo todas as religiões! Bem na frente da casa da minha filha
onde vou todas as noites, tem uma igrejinha, “dessas que abrem sempre”. Eu escuto
o culto deles todos os dias. Outro dia o “celebrante” de lá me convidou pra ir
numa campanha de sete quintas-feiras pra derrotar o devorador dos lares, eu
respondi que ia, mas não fui, pois tenho muita “cisma” de ir lá. Não que os
cultos sejam ruins não pastor, mas é que lá eles falam demais no coisa ruim (o
senhor sabe quem é); e tem um negócio esquisito que eles falam lá; um tal de
derrubar o irmão perseguidor, o irmão fofoqueiro, o crente vermelho (que eu nem
sei o quem é); e eu prefiro não arriscar. O senhor sabe me explicar o que é esse negócio
desses irmãos esquisitos"?
Apesar desses
casos parecerem até um pouco engraçados, me fizeram pensar em como as
pessoas se sentem com a maneira como anunciamos o evangelho.
Não quero aqui
justificar as desculpas dadas por esses meus vizinhos, pois quem sente a
necessidade de ser salvo deve superar dificuldades, mal entendidos e
preconceitos; mas não se pode dizer que eles não tenham um pouco de razão.